Às vezes sim, às vezes não.

Acreditava no amor e não acreditava. Às vezes sim. Às vezes não. É como tudo. Não há grande diferença. É como acordar a sorrir porque se sonhou com o paraíso. Ou acordar a chorar porque se viu o inferno. A vida é mesmo assim. É normal que sim e é normal que não. Nunca se sabe ao certo. Aquilo que se procura nem sempre se encontra. E aquilo que se encontra nem sempre é o que se procura. E às vezes sim e nem vemos. E às vezes não e nem percebemos. Ora parece que sim, ora parece que não. Há um sorriso doce e uma lágrima amarga, e um sorriso triste e uma lágrima de alegria. E o contrário do que é nem sempre é o oposto do que não é. Palmilhamos e tacteamos e tentamos adivinhar. Mas o enigma começa depois de o termos resolvido. Caixa chinesa de emoções indecifráveis. Ninguém tem o mapa dos caminhos por fazer. O futuro é o presente à procura de si próprio e o passado são os passos que damos para lá chegar. Mas não se aprende a lição que outros nos podem ensinar. Não se encontra sem perder nem se perde sem encontrar. Acreditava no amor e também não acreditava.

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Há mil e uma maneiras de fazer amor. E tantas por inventar.

Não me guardei para ti

Não me guardei para ti e não me arrependo. Porque eu não sabia que te ia encontrar. Nunca acreditamos em milagres. Mesmo quando imaginamos que sim. Corremos sempre ainda que acreditemos na Virgem. E talvez nem a Virgem o fosse. Chamava-se Maria e teve um filho. Talvez tenha tido mais. Um dia disse a José que ia ter um filho de Deus. E José disse que sim. Que o filho que teriam de Deus seria. Que todos o somos. Ou talvez Maria tenha dito: "Tenho Deus dentro de mim." E José confirmou. "Tenho-o dentro de mim também", terá acrescentado. À sua imagem e semelhança fomos criados. E se damos pela diferença é só porque estamos sós, e não sabemos, e temos medo. Ele não. Ele sabe e não tem medo. Embora seja possível que também se sinta só. Mas não foi pela Virgem que eu esperei, nem te amaria mais se o fosses.

Aqui e agora

Qualquer coisa era um segredo por descobrir, como as tuas mãos. Um calor sempre novo, intenso, suave. Ou a tua boca, leve, sedenta. Perder-me em ti, em nós, saltar o ângulo exacto do frio que é a madrugada e repousar no nosso ovo, espaço inteiro, completo, o lugar aqui e agora.

Nas mãos do pintor II

A Deux (Ragnit von Mosch)