Noite
De repente apeteceu-lhe acender um cigarro. Fê-lo sem pensar e ficou a olhar para o tecto perdida em pensamentos. O calor e o cheiro do corpo de Ricardo trouxeram-na de volta ao quarto e à memória dos beijos recentes. O que tinha mudado desde a última vez? Quanto tempo tinha passado desde a última vez? Pouco, seguramente, não mais do que dois ou três dias, dias calmos, dias aprazíveis, dias cheios de risos e de encantamentos. Cristina apetecia-lhe chorar. Ricardo sorria-lhe agora, aparentemente feliz, o que a fazia sentir-se ainda mais confusa e miserável. O que tinha mudado, voltou a questionar-se, certa, no entanto, de que não encontraria resposta para a pergunta tantas vezes formulada. Amava Ricardo, como ele a amava a ela. Não obstante, isso nem sempre parecia bastar a Cristina. E o que usualmente tinha o cheiro, a forma e a textura de milagre dentro do seu coração, tinha hoje, como em outros momentos, o sabor amargo de um vazio quase próximo do deserto que é a solidão. O cigarro chegava ao fim, bem como a vontade de pensar de Cristina que, depois de sorrir a Ricardo, se aninhou nos seus braços certa de que o sono, esse seu amigo, chegaria breve, breve.
1 comentário:
voltarei para conhecer a casa nova. J.
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