Tocar o Eterno

Tendemos a imaginar o amor como algo que existe independentemente de nós. Como algo que nos acontece de fora para dentro e não de dentro para fora. Mas só o amor que temos dentro de nós se pode exteriorizar e só aquilo que já temos podemos encontrar. Amar não é tanto desejar ser amado – o que pode conduzir, se é que não conduz sempre, a uma forma perversa de amor – quanto desejar amar. Só podemos receber aquilo que temos e só temos o que damos. A solidão não é apenas efeito do desamor, é também condição do amor. Só o amor que alimentamos dentro de nós, a sós connosco próprios, se pode exteriorizar e tocar o outro. Cupido existe fora de nós, ou assim o imaginamos, mas como todos os deuses Cupido não tem existência real fora do espaço simbólico dentro do qual adquire significado. Todos estamos expostos às suas setas do amor, mas depende de nós prolongar o efeito da sua droga. Os templos que construímos fora de nós e onde objectivamos o nosso coração são apenas pó e coisa nenhuma que o tempo reduzirá a nada. Mas o templo que construímos no coração, tem a dimensão do nosso ser e do nosso amor, e mesmo que acabe onde nós acabamos, a luz que dele irradia é provavelmente a nossa única oportunidade de tocar o Eterno.

1 comentário:

jmnk disse...

Amar não é tanto desejar ser amado – o que pode conduzir, se é que não conduz sempre, a uma forma perversa de amor – quanto desejar amar.

Eu digo que amar é também desejar ser amado. O amor é individual ou, mais exactamente, interpessoal: amamos unicamente uma pessoa e pedimos a essa pessoa que nos ame com o mesmo afecto exclusivo. A exclusividade exige a reciprocidade, o acordo do outro, a sua vontade. O amor está preso pela liberdade do outro.